quarta-feira, 20 de setembro de 2017

A Revolução Farroupilha e a Maçonaria

A Revolução Farroupilha: Decênio de 1835 a 1845


Sem nenhuma dúvida, os fatos que determinaram a indicação da data do Dia do Maçom Nacional e da Independência do Brasil, comprovam que a Maçonaria sempre funcionou como uma oficina de formação intelectual, de tomar a defesa dos interesses sociais e, algumas vezes, a iniciativa de planos políticos. Portanto, as questões não resolvidas e que incomodam, são objeto de debate, interiormente, dentro do indefinido domínio do conhecimento, até se encontrar uma solução. Portanto, ainda que o assunto seja alvo de controvérsias, não se pode negar a participação da Maçonaria ou de Maçons na Revolução Farroupilha.

Foto: Guilherme Litran, Carga de cavalaria Farroupilha, acervo do Museu Júlio de Castilhos

Aliás, sobre a evidência revelada, veja-se o constante da obra traduzida pelo Irmão Marista Elvo Clemente:
O italiano Luigi Nascimbene, doutor em física matemática, engenheiro, arquiteto hidráulico, foi daqueles que aderiu ao movimento “Giovine Itália”, de Mazzini, com o qual se envolveu em uma conspiração Maçônica-Carbonária que, descoberta, por volta de 1830, obrigou-se a abandonar a península itálica1.
Ligado à Maçonaria – de vez que trouxe da Inglaterra uma carta de recomendação a Rivadavia {...} em Buenos Aires {...} passando a Montevidéu, cidade em que vivia o irmão médico, {...} se crê que a única visita feita por San Martin a Montevidéu haja sido para um encontro com Nascimbene, que se credenciaria, na ocasião, como o representante supremo da Maçonaria na América do Sul. Se assim efetivamente foi, é de se admitir que o empréstimo feito à República, ou as armas a ela fornecidas, tenha sido em representação da Maçonaria {...}2
Esses atos – somente do tempo em que mereceram publicidade em “O Povo”, convém frisar – estão contidos nos seguintes números do periódico: {...} n.º 21, p. 2: portaria ordenando à autoridades do Estado que prestem a Nascimbene a mais franca cooperação e auxílio “para bem desempenhar a comissão de que vai investido”, assim como ofícios aos comandantes gerais da polícia das Missões e de Alegrete, recomendando-lhes “auxiliem-no em tudo ao seu alcance, a bem do desempenho da  comissão de que vai incumbido pelo governo”; {...}3
Em uma obra de quatro volumes, com mapas e ilustrações, encontrada na biblioteca da Universidade de Pavia-It, escrita em italiano, em manuscrito, sob o título Tentativa de Independência do Estado do Rio Grande do Sul do Império do Brasil, segundo o Tradutor Irmão Elvo Clemente, existe narrativa por quem viveu muitos dos acontecimentos da Revolução Farroupilha. No prefácio do livro traduzido, consta que se trata da memória de alguém aparentemente “neutro” em relação aos conflitos que descreve. Desta obra extraímos o seguinte:
Luigi Nascimbene, em seu Livro III, Capítulo II, narra que à vista da cidade de Porto Alegre, mas na margem oposta do rio, a duas léguas mais abaixo surge o vasto estabelecimento de campo chamado de Pedras Brancas (atual cidade de Guaíba) Casa do benemérito patriota Gomes Jardim, {...} lá foram os conspiradores e no dia 15 de agosto fixaram o lugar e a hora da reunião4.
Ainda, sob o título “Ato assinado pelos conspiradores”, esclarece que: Produziram um manifesto, e assinaram: Bento Gonçalves da Silva, o Conde Lívio de Zambecari, José Gomes de Vasconcelos Jardim, José Carlos Pinto, Francisco Modesto Franco, Pedro Antunes, Manuel Macedo da Silveira. Apenas firmado, compareceu a passos lentos o Venerável Vicente Ferreira Leitão, quase octogenário, e com a mente e o corpo cansado pelo caminho, foi-lhe embrulhado e depositado debaixo daquela pedra colossal, que com a força rolou e caiu, repelindo aquele testemunho, e que lá se encontra ainda hoje (o negrito é nosso).
Ante a clareza da narrativa dos fatos, em particular, até mesmo pelo título atribuído ao octogenário, como autoridade máxima de uma Loja Maçônica, os Maçons estiveram presentes na ação heroica e, de alguma forma, contribuíram para os efeitos do referido movimento revolucionário.
Tal circunstância, autoriza, e, ao mesmo tempo, requer se relate que: em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, a 2.ª Loja Maçônica em antiguidade, é a “Fidelidade e Firmeza”, fundada em 1833, subordinada ao Grande Oriente do Passeio5, do senador Nicolau Vergueiro[6].
O mesmo historiador transcrito no rodapé, em nota, conta que, segundo os registros oficiais, a Maçonaria em Pelotas começou com a “Harmonia RioGrandense”, em 18417.
Logo, a história nos mostra que o surgimento das Lojas Maçônicas no Rio Grande do Sul inicia precisamente no período do levante. Por isso que é verdadeiro o assentamento feito por Antônio Augusto Fagundes sobre a agremiação de Maçons em oficinas de trabalhos denominadas Triângulos. Veja-se o registro:
Na Europa, muitos argentinos se iniciaram na Maçonaria. Entre eles José de San Martin e Carlos Alvear, que logo serão próceres importantes no sul da América. De regresso à Argentina, fundaram em Buenos Aires a Logia Lautaro que foi a madre de muitas Lojas Maçônicas do Prata. Em Porto Alegre se organizam Triângulos e Lojas sob o disfarce de Gabinetes de Leitura que se espalham também em Rio Pardo, Pelotas e Rio Grande. Bento Gonçalves da Silva e muitos liberais (e alguns conservadores também) eram Maçons e isso foi decisivo para o 20 de setembro – como aliás, foi decisivo também em muitos acontecimentos durante o Decênio Heroico e até na Paz de Ponche Verde. Claro, os Maçons trabalham em silêncio e seus documentos são secretos. Muitos desses documentos se perderam ou foram ocultados e pouco emerge de seu conteúdo {...}8.
Em síntese, os fatos conhecidos que se apresentam nos livros de história restringem-se aos antes expendidos, obviamente, em especificidade quanto a atuação dos Maçons e a formulação de conceitos acerca de terem se posto em concordância nas ideias da Revolução.
Entretanto, como a matéria envolve registro de acontecimentos que se efetivaram durante uma década, e que são de grandes dimensões, a respeito das principais causas da revolta e dos detalhes quanto: I) os antecedentes; II) a luta armada; III) as efemérides da grande revolução; IV) a proclamação da República Rio-grandense; V) os homens ilustres que a história indica para a “Galeria Farroupilha”; VI) os presidentes e ministros do período revolucionário; VII) as negociações; VIII) o Tratado de Ponche Verde; são temas, incluindo outros de escolha pessoal, que inspiram a sugerir se consulte as seguintes Obras:
·       FAGUNDES, Antônio Augusto. Revolução Farroupilha. Martins Livreiro Editora. 3.ª ed. Porto Alegre. 2008. FAGUNDES, Morivalde Calvet. Revelações da história da maçonaria gaúcha e demais Livros a respeito.
·       FLORES, Moacyr. A Revolução Farroupilha. Editora da Universidade, 1ª ed. Porto Alegre. 1990.
·       NASCIMBENE, Luigi. Tentativa de Independência do Estado do Rio Grande do Sul do Império do Brasil. Tradução de Irmão Elvo Clemente. Companhia Rio-grandense de Artes Gráficas – CORAG. Porto Alegre. 2002.
·       SPALDING, Walter. A Revolução Farroupilha, Editora Universidade de Brasília. 3.ª ed. Brasília. 1982.
·       ZATTI, Carlos. Nas Restevas do Gauchismo. Departamento de Imprensa Oficial do Estado. Curitiba. 1994. E, resumidamente no site https: //pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_dos_Farrapos.
De qualquer maneira, evidente é a conclusão, quando a leitura é cuidadosa e refletida, que a presença e a disposição de espírito dos Maçons, perante a Revolução Farroupilha, não foi fundamental e nem decisiva, diante da complexidade das causas, das aspirações, e da realidade social no Rio Grande do Sul, tanto antes, quanto durante o Decênio Heroico, mas, a ilação firma definitivamente que influenciou no despertar do movimento, sob a correlação dos antigos ideais do “iluminismo” e na mais recente concepção filosófica, ou ideia, surgida à mente do sábio Rousseau, em seu “Contrato Social”, com a qual propôs que todos homens deviam ter a oportunidade de fazer a coisa certa. Assim, por sua liderança natural, supõe-se ser a razão de vários Maçons terem participado da mais duradoura revolta contra o Império do Brasil.
Por esse interessante motivo é que muitas Lojas Maçônicas reverenciam a memória dos Maçons gaúchos que cumpriram com essa importante missão, unidos pelo fraternal espírito de Liberdade, Igualdade e Humanidade, que se constitui no lema dos revolucionários de 1835, que, sob o Pavilhão Tricolor, composto das três faixas nas cores verde, vermelha e amarela, pretendiam criar um Brasil republicano e federativo.
Porto Alegre, 15 de setembro de 2.015.
Luiz Fachin
CIM. 178981
GOB/RS


[1] NASCIMBENE, Luigi. Tentativa de Independência do Estado do Rio Grande do Sul do Império do Brasil. Tradução de Irmão Elvo Clemente. Companhia Rio-grandense de Artes Gráficas - CORAG. Porto Alegre. 2002. p. 7
[2] Ibid. p. 31.
[3] Id. p. 32.
[4] Id. p. 92.
[5] FAGUNDES, Morivalde Calvet. Rocha Negra – A Legendária, 1.ª ed. A Trolha, Londrina-Pr. 1989. p. 17.
[6] Ibid. p. 13.
[7] Id. p. 17.
[8] FAGUNDES, Antônio Augusto. Revolução Farroupilha. Martins Livreiro Editora. 3.ª ed. Porto Alegre. 2008

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